25 junho 2012

O clube do teu coração

O coração tem razões que a própria razão desconhece, dizia o sábio. Não é preciso chamar-se Pascal nem ser matemático para saber isso. Basta examinar-se a si mesmo e concluir que o homem tinha toda razão.

Falemos de futebol. Você é daquelas pessoas que vivem dizendo que não sabe nada a respeito do chamado esporte bretão, nem nome de time algum, menos ainda nome de jogador. Aliás, nem sabe o que significa esporte bretão. Provarei que você se engana.

Ou você é torcedor fanático, desses de ir trabalhar na segunda-feira com a camisa do time por baixo do paletó. Quando ele ganha, é claro. Ou vai preparado para dar porradas nos colegas gozadores quando teu time perde. Provarei que o time do teu coração talvez não seja bem aquele que tua camisa mostra.

E farei isso baseado na matemática, coisa que o Pascal certamente não fez. Não leve a sério aquilo do Einstein: Do not worry about your difficulties in Mathematics. I can assure you mine are still greater. Ele diz que as dificuldades dele eram maiores do que as nossas  mais por gozação do que por acreditar mesmo nisso. Sou mais aquela outra sacada dele: As far as the laws of mathematics refer to reality, they are not certain; and as far as they are certain, they do not refer to reality. Quando leis matemáticas se referem à realidade elas não estão muito certas; quando estão certas é porque não se referem à realidade.

Pois será com a matemática que provarei que o teu coração tem razões que tua cabeça nem imagina.

Aí estão selecionados o nome de dez times de futebol:

  1. Santos Futebol Clube
  2. Clube de Regatas Vasco da Gama
  3. Grêmio de Futebol Portoalegrense
  4. Clube Atlético Mineiro
  5. Esporte Clube Bahia
  6. Santa Cruz Futebol Clube
  7. Ceará Sporting Club
  8. Coritiba Football Club
  9. Sport Club Corinthians Paulista   
  10. Avaí Futebol Clube


Independentemente de gostar ou não de futebol, escolha um desses dez clubes, de preferência aquele de tua aparente predileção. Se o nome dele não estiver aí, altere a lista e substitua o nome de um dos dez times pelo nome do teu aparente time do coração.

Agora pegue o número correspondente ao clube escolhido e multiplique por 3. Feito isso, some 3 ao resultado. Feito? Agora multiplique esse novo resultado por 3. Se o número que resultar dessa última operação tiver dois dígitos, some esses dois números. Pronto: você tem em mãos o número do verdadeiro time do seu coração. Vá à lista e veja qual é ele.

Lembre-se: quem escolheu foi você, não fui eu. Não me xingue por uma escolha que foi tua.

19 junho 2012

RIO+30

O carvão, o petróleo e o gás são chamados combustíveis fósseis porque são compostos principalmente dos resíduos fósseis de seres remotos. A nossa civilização funciona pela queima dos resíduos de criaturas humildes que habitaram a Terra centenas de milhões de anos antes que os primeiros humanos aparecessem na cena. Como num terrível culto canibal, subsistimos dos corpos de nossos ancestrais e parentes distantes.” (Carl Sagan, Bilhões e bilhões)


Nossos bisavós acreditavam que a religião lhes servia para saber tudo o que precisava ser aprendido. E viviam muito felizes. Pelo menos foi essa a idéia que nos foi transmitida por nossos avós. Já os nossos pais, talvez eles pensassem que a coisa não era bem assim. Alguns deles, mais exagerados, chegavam a negar qualquer valor àquelas verdades dogmáticas. “O que a ciência não comprova eu não aceito”. Ou, como dizia o pai de um amigo meu, que, espelhando-se no exemplo paterno, um dia, jovem ainda, proclamou que ele também era ateu. Ou agnóstico, sei lá. “E você lá tem idade para não acreditar em Deus, Juca?” foi o sábio conselho que o futuro jornalista esportivo ouviu na ocasião. Já o Charles Darwin, esse descobriu que Deus por vezes escreve direito por linhas tortas. Resultado: o homem resolveu publicar suas anotações sobre a origem das espécies, por mais que isso desagradasse sua querida e carola Emma. E deu no que deu.

Graças à ciência aprendemos que a vida começou no mar, o verdadeiro pulmão da Humanidade. Um dia os peixes se cansaram daquele ir e vir infernal e resolveram tentar a vida cá fora. Parece que, de início, deslumbrados com o tamanho do céu, os antigos peixes resolveram explorar todo aquele espaço. Mas logo descobriram que bater as asas vinte e quatro horas por dia não estava com nada. Até porque precisavam de comer e de beber, se quisessem sobreviver. Talvez até dormir, coisa que, segundo dizem, até os peixes fazem. Aliás, botar ovos na maciez das nuvens, nem pensar, concluíram eles, sabiamente. E os peixes, que haviam evoluído para aves, agora evoluíram para mamíferos, coisa, aliás, que as baleias e os golfinhos já eram. Disso segue que, rigorosamente, o morcego não é um rato que voa, como geralmente se diz. Ao contrário, repare que as asas do morcego, cujo esqueleto mostra isso, até mesmo com unhas nas pontas, é o prenúncio do que seriam as pernas dianteiras do rato. A rigor, o rato é que é uma “evolução” do morcego.

O que acaba me levando de volta à religião. Ou, melhor, à sua forma disfarçada de invadir a área pretensamente científica, como a ciência do Direito, que se apóia em dogmas claramente religiosos. Obrigar um judeu ou um muçulmano a ser juiz em uma sala onde está pendurado o símbolo do cristianismo é, quando menos, um disparate. Mas isso é mantido pelos nossos juízes, em nome de algo que o Gilberto Gil, se entendesse do assunto, chamaria de “cultura”.

Um desses dogmas está presente na idéia de que o homem não evolui: é hoje o que foi sempre. Ele não foi criado à imagem e semelhança de Deus, mesmo que não saibamos como é a imagem de Deus? Pois então. O problema será buscarmos descobrir se essa mera semelhança não se tornou identidade. Identidade de quem com quem?

Dizem alguns estudiosos que o que faz a diferença entre o ser humano e os outros animais é capacidade de ter compaixão. Isto é, tentar sentir a mesma dor que o outro sente. Será?

Tudo o que nossos olhos e nosso olfato nos mostram é que os peixes e os macacos jamais haviam pensado em poluir o mar e os rios ou queimar as florestas para produzir mais gás carbono do que a atmosfera poderia suportar. Somente graças à “evolução” do ser humano é que esse “progresso” logrou ser alcançado.

Os verdadeiros cientistas sabem e dizem que a ciência consiste em um conjunto de conclusões que se baseiam naquilo que pode ser conhecido hoje. O amanhã a Deus pertence, diriam eles se dissessem o que pensam.

Diz-se também que todos os homens são bons e que o pecado é coisa natural no ser humano, motivo pelo qual devemos ser tolerantes para com esse sinal de nossa fraqueza, demonstração de que ainda somos apenas imagem, ainda não atingimos a perfeição que só Deus possui. Acontece que “crime” e “pecado” são dois conceitos que não se confundem, cientificamente falando. A penitência, que a teologia católica vincula ao pecado, nada tem a ver com a pena, que o Direito Penal vincula ao crime. O “olho por olho”, por sinal de origem religiosa, tinha por escopo, na área mundana, mostrar ao pecador o tamanho do mal que havia causado. Mataram 13 do lado de cá? Pois que morram 13 do lado de lá. Graças à contaminação religiosa, deu-se ao local onde os criminosos, nos países mais atrasados, devem ficar durante algum tempo, depois de condenados por uma autoridade civil, o sintomático nome de “penitenciária”. O estrago estava feito. Roubou cem ou roubou um milhão? Pena de três anos, com direito de liberdade provisória depois de alguns dias do início do cumprimento. Só não imita o criminoso quem for muito besta. Ou muito medroso.

Felizmente, para a sobrevivência de outros animais, a evolução do ser humano está a produzir o derretimento das geleiras do hemisfério norte da Terra. Com isso, o nível dos oceanos deve elevar-se sensivelmente nas próximas décadas, segundo os cálculos mais otimistas. O que bastará para fazer submergir as principais cidades que a inteligência humana fez construir nos litorais do mundo. A má notícia é que Brasília será poupada. Graças a isso os peixes voltarão a multiplicar-se, até porque não haverá o ser humano para dizimá-los com barcos pesqueiros providos de sonar. Com o tempo voltarão a voar. Depois terão as asas atrofiadas. Um belo dia aparecerá de novo na face da Terra um evoluído animal, andando sobre as patas traseiras, que se achará no direito de encerrar o ciclo evolutivo, dizendo-se o eleito de Deus. Com ele virá nova revolução industrial, produção de bens supérfluos sempre crescente para atender ao consumismo desenfreado, países lutando para preservar suas fontes de combustível e seus mercados cativos e tudo o mais que já conhecemos. 

E tome poluição.