“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se
acabar”. Assis Valente
Estamos chegando a 21 de Dezembro de 2.012,
quando, finalmente, segundo os sábios Maias, o mundo vai acabar.
A discussão em torno do fim do mundo é uma conversa de bêbados semelhante à discussão sobre a existência ou inexistência de Deus. Os antigos diziam que isso era o mesmo que discutir o sexo dos anjos. Começa que, lá como cá, há necessidade de estabelecerem-se previamente os conceitos que serão utilizados na discussão. Que você entende por “anjo”? Que você entende por “Deus”? Que você entende por “mundo”? No caso concreto, se considerarmos “mundo” apenas o nosso planeta, a conversa é uma; se considerarmos que a palavra se refere a todo o universo, a conversa evidentemente será bem outra. Vá aos dicionários e veja o que eles dizem. Aliás, há quem já fale em multiversos e não apenas uni.
Se eu lhe perguntar se você gosta mais das
mangas pequenas do que das mangas grandes, qual será sua resposta? Se eu lhe
disser que na carpintaria da esquina há um sargento prendendo uma tábua na
bancada, o que você imaginaria? Pois saiba que ali, unindo a serra elétrica à
rede de força, há um cabo que nunca foi soldado. Deu pra entender? Eu falava em
frutas ou em indumentária? Em militares ou em aparelhos de carpintaria?
Para limitar o alcance do nosso bate-papo
de botequim, aceitemos que a palavra “mundo” se refira apenas a nosso planeta.
Há quanto tempo nasceu ele?
Os sumérios, que se estabeleceram entre os
rios Tigre e Eufrates (a Mesopotâmia, ou “terra entre rios” de nossas aulas de
História da Civilização, lembra?) muito antes de muita coisa acontecer ali
(5.300 a 2.330 a.C.), dentre outras coisas inventaram a escrita, com a vantagem
de valerem-se de tábuas de barro, em lugar de eliminar florestas como passou a
fazer a “civilização”, muitíssimo antes do nascimento do Gutenberg, para
publicar livros feitos de papel. Eles descobriram que o céu era uma colcha de
veludo escuro, com alguns furinhos, em número de sete. Era o primeiro contato
dos homens com os deuses: Vênus, deusa do amor; Marte, deus da guerra; Saturno,
que devorava os próprios filhos, ad
cautelam tantum, pois, muito antes do Vinicius, já pregava: “Filhos? Melhor
não tê-los”; Júpiter, o manda-chuva e manda-raios; o Sol e a Lua. Esses deuses
foram concretizados nos dias da semana (settimana
ou “sete manhãs”), em diversas línguas: Saturday
(dia de Saturno), Sunday (dia do
Sol), Monday (dia da Lua), Mardi (Martis dies ou dia de Marte), Mercredi
(Mercurii dies ou dia de Mercúrio), Jeudi (Jovis dies ou dia de Júpiter), Vendredi
(Veneris dies ou dia de Vênus), para
não falarmos no Sábado (dia de Sabbat
ou dia de repouso e oração) e no Domingo (dies
dominicus ou dia do Senhor). E, no centro de tudo, nós e nosso umbigo.
À medida que a civilização suméria
caminhava para o desaparecimento, como ocorre com todos os seres vivos, surgia
não apenas uma outra civilização, mas um novo estilo de governo: a demagogia,
baseada num casamento entre o divino e o profano, tendo como pano de fundo a
certeza de que o povo, antes como hoje, gosta mesmo é de pão e circo. Panis et circensis, como se dizia no
falecido Tropicalismo.
De fato, o rio Nilo apresentava fluxos e
refluxos constantes. Subindo as águas, elas fecundavam áreas enormes, que se
tornavam agriculturáveis quando baixavam as águas, o que significava fartura de
alimento. A esperteza do governante (faraó) levou-o a assumir os méritos pelo
fenômeno climático, pois ele era nada mais nada menos do que a divindade
encarnada. Isso durou mais de 3.000 anos, 100 anos em média para cada dinastia.
E nós ainda reclamamos dos poucos anos em que somos tapeados pelos nossos
atuais demagogos! Fugindo os escravos hebreus do Egito, liderados, ao que se
diz, por Moisés, o exemplo aprendido com o faraó frutificou, sendo posto em
prática pelo líder dos fugitivos.
Aos trancos e barrancos a ciência avançou,
driblando as resistências religiosas e tentando explicar a história de nosso
mundinho com base em algo que não fossem as revelações feitas aos iluminados,
fossem eles faraós, fossem pastores de rebanhos, televisivos ou não, fossem
churrasqueiros de incréus.
Assim, muito embora a grande explosão
inicial (o tal big bang, que, na
realidade, nem fez barulho nem era grande) tenha ocorrido há cerca de 13,7
bilhões de anos, o nosso Sol teria surgido há “apenas” 4,6 bilhões de anos.
Dele se destacaram pedaços, que foram estabelecendo suas rotas, uns mais e
outros menos próximos da “nave-mãe”. Dois desses corpos tinham rotas
incompatíveis. Hoje eles são identificados por Terra e Theia, um nome de que
você talvez jamais tenha ouvido falar. Quando o Sol comemorava aí os seus 50
milhões de anos, aqueles dois planetas colidiram, espalhando cacos e poeira
para todo lado. A rotação da Terra, cujo volume a tornava bem maior do que a extinta Theia, era tão
grande que, a exemplo do que faz uma máquina de produzir algodão doce num
parque de diversões, catalisou aqueles elementos ultra-aquecidos, que,
contatando entre si, foram-se amalgamando, até reunirem-se em um único corpo
celeste. Estava criada a Lua, presa à Terra por um fio invisível chamado “força
gravitacional”. Agora, o nosso planeta não se esforçava apenas para produzir o
seu giro em torno de um eixo, carregando seu peso. Foi-lhe adicionado o peso da
Lua, o que levou a velocidade da sua rotação a reduzir-se a 1/6 do que era
antes, algo que os cientistas, muito tempo depois, chamariam de “dia”.
Como tem sido a vida desse nosso “mundo”
desde então? Tem sido uma eterna competição entre vida e morte. Aquela bola de
fogo inicial foi esfriando graças, principalmente, a impactos de meteoros
gelados, quando ainda não havia uma “rede de proteção” contra isso envolvendo o
planeta, a tal camada de ozônio. Paradoxalmente, com as erupções vulcânicas, a
Terra foi esfriando, pois as nuvens fantásticas que se formavam barravam a
chegada de raios solares, levando ao congelamento a água existente. A era do
gelo, ao contrário do que se supõe, não foi uma só, nem foi tão divertida como
sugere um simpático desenho animado de nossos dias. Os seres vivos que foram
aparecendo ao longo do tempo acabavam desaparecendo, ante a inclemência desse
sobe/desce da temperatura. Nem a família dos mega sauros aguentou. Depois de
passearem pelo planeta por mais de 160 milhões de anos (até no Brasil e na
Argentina foram encontrados fósseis relativos a eles, pois não havia oceano
separando continentes), bastou que um meteoro colidisse contra a Terra, há 65,5
milhões de anos, onde hoje é Yucatan, no México, para que a alteração climática
acabasse com cerca de 80% dos seres vivos existentes na Terra. Só a cratera produzida
tinha 160 quilômetros de diâmetro.
Chegando ao mês de dezembro, estamos às
vésperas do 6° fim do mundo ocorrido em nosso planeta, o que quer que isso
signifique.
A afirmação de que o homem está, com sua
irresponsabilidade, destruindo o planeta é mais uma demonstração de nossa
megalomania e egocentrismo. A irresponsabilidade do homem está diminuindo a
quantidade de oxigênio respirável por aqueles que, como nós, necessitam dele.
Ocorre que nem todos os seres vivos dependem do oxigênio para viver, o que significa que nós iremos e eles ficarão. Estamos aumentando o número
de seres humanos de forma irresponsável, mesmo sabendo ser impossível produzir
alimento para 7.000.000.000 de bocas. Estamos concentrando riqueza, em lugar de
distribuí-la, criando formas violentas de sua obtenção, seja considerando-se os
crimes individualmente, seja considerando-os a nível de nação contra nação. Ou
seja, nós estamos destruindo a própria humanidade, a nossa própria espécie,
coisa que nenhum ser vivo fez até hoje.
Estamos simplesmente confirmando o que diz
a sabedoria popular: Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes, mas a
Natureza perdoa nunca.
O que surpreende é que, se desde a colisão
entre Theia e a Terra (cerca de 4,5 bilhões de anos atrás) até este momento se
tivesse passado apenas um dia, ou seja, 24 horas, o aparecimento do Homo sapiens teria ocorrido quando
faltavam apenas três segundos para a meia-noite. Ou seja, o meio ambiente da
Terra teria vivido 23 horas, 59 minutos e 57 segundos sem o ataque perpetrado
pela nossa “civilização”.
Simplesmente incrível essa nossa capacidade
patológica de destruir, que o velho Freud associava à tanatofilia, ou paixão
pela morte.
Pelo sim, pelo não, aí vai o texto. Sei lá
onde estarei no dia 21.