Desafio
Ontõe Gago e Zé Preá,
gente boa num repente,
se encontraro em Cabrobró
pra alegria dos presente.
Fizero um forrobodó
de botá inveja na gente.
Desafia um daqui
arremete outro de lá
e ameaça arrebentá
a cara desse sagüi.
Eis que chega um forastero
para entrá na brincadera.
Quem é ele? Mano Mero,
vindo do sul brasileiro.
No Nordeste é no repente,
lá no sul é califórnia.
Veja o senhor a esbórnia
que ele tem na sua frente.
Zé Preá puxa o punhá
Mano Meira sua espada.
Bota ela ali deitada
no terreno do quintar.
E o gaúcho vem bailando
saltita sobre a danada.
Zé Preá nu intende nada,
Ontõe Gago só mirando.
Toda lida ali termina
com gritinho e alegria,
com abraço e cantoria.
Coisa munta feminina.
Devo agora terminá
este modesto repente.
Me desculpe, Zé Preá,
se lhe fui tão renitente.
Mano Meira vem pra cá
comer churrasco co’a gente.
Ontõe Gago vai dançá
xaxado, todo contente.
A. Cerviño - SP
(Migalhas 1º. 09.06)
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20 agosto 2008
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Este tal Mano Meira, dançador de chula e assador de primeira, seria por acaso aparentado com nossa querida poeta Juju?
ResponderExcluirLegal teu desafio!
O TAL DE DESAFIO.
ResponderExcluirAmigos. O tal desafio
Já vai pra um rol de tempo,
É chama que o vento
Apaga e reacende o pavio,
Cousa igual nunca se viu
Fora do mundo virtual,
Mas nesse jogo desigual
Mestre Adauto é o luzeiro,
Bem no centro do terreiro
É quem segura o castiçal.
Mano Meira.
E por falar em dasafio, que tal esse habeas-pinho, bem afinado:
ResponderExcluirNos anos 70, em Campina Grande, na Paraíba, um rapaz que fazia serenata às proximidades de uma residência foi preso, por descumprir Portaria do Delegado local, que proibia a permanência nas ruas após as 22h. Embora o rapaz tenha sido liberado no dia seguinte, o violão ficou detido. Tomando conhecimento do acontecido, o então jovem advogado, poeta e atual senador Ronaldo Cunha Lima enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical:
Exmº Senhor Juiz de Direito desta Comarca
O instrumento do "crime"que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revolver ou pistola,
Simplesmente, Doutor, é um violão.
Um violão, doutor, que em verdade
Não feriu nem matou um cidadão
Feriu, sim, mas a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade
O crime a ele nunca se mistura
Entre ambos inexiste afinidade.
O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam mágoas que povoam a vida
E sufocam as suas próprias dores.
O violão é música e é canção
É sentimento, é vida, é alegria
É pureza e é néctar que extasia
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório.
Mas seu destino, não, se perpetua.
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório.
Ele, Doutor, que suave lenitivo
Para a alma da noite em solidão,
Não se adapta, jamais, em um arquivo
Sem gemer sua prima e seu bordão
Mande entregá-lo, pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno acoite
De suas cordas finas e sonoras.
Liberte o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito.
É crime, porventura, o infeliz
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado
Derramando nas praças suas dores?
Mande, pois, libertá-lo da agonia
(a consciência assim nos insinua)
Não sufoque o cantar que vem da rua,
Que vem da noite para saudar o dia.
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento
Juntada desta aos autos nós pedimos
E pedimos, enfim, deferimento.
O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.
Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.
Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.
Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.
Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.
Ao final, diga-se entre parêntesis (que o despacho concedente da ordem do habeas-pinho, tem a cara do nosso Mestre Adauto). Cordiais saudações! Cleanto Farina Weidlich - Carazinho (do mesmo torrão natal dos famosos Mano Meira e Leonel Brizola), RS.