“Ser poeta não é
minha ambição.
É a minha maneira
de estar sozinho.”
Alberto
Caeiro, pela mão de Fernando Pessoa
Estou
ao telefone há horas,
a
perguntar insistentemente
e
tudo o que oiço é minha própria voz,
sem
eco algum do outro lado.
Ninguém
está lá,
eis
o que concluo.
Ou
finge não estar,
certamente
sabedor de que quem está cá
outro
não é que não eu.
Tenho
por impossível que todos saiam ao mesmo tempo,
máxime
em manhã frígida como esta,
pleno
sábado,
neve
aos cântaros,
ventos
uivando pelas ladeiras,
a
levantar gravetos
e
toda espécie de impurezas
pelo
vento levantáveis.
Quem
se disporia
a
ter as saias levantadas?
Cabelos
desalinhados?
Cachecóis
a esvoaçar,
quais
enormes borboletas
presas
ao nosso pescoço?
E
tudo apenas
para
não me atenderem
ao
chamado telefônico.
Não!
Positivamente,
mangam de mim.
Vejo-os
ao lado do aparelho,
a
contar-lhe os rogos todos,
que
lhes ecoam pela casa,
como
gritos de súplica
de
um quase afogado.
Riem-se
uns aos outros
e
não admira
que
a moçoila leve os dedos aos lábios,
como
a temer
que
eu de cá lhe escute
os
abafados risos.
Tola!
Então
não sabes
que
a condição primeira,
sine qua non eu diria,
para
que eu te escute
é
dizeres sim
ao
depois de alçares do gancho
esse
maldito aparelho de escuta?
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