29 setembro 2011

Exxtrapolamentos

“Eu fui no Itororó,
beber água e não achei.
Achei bela morena,
vim sozinho ela era um gay”

(Do Livro das Sínteses, ainda inédito)

A Ordem dos Advogados do Brasil, secção de São Paulo, tinha, na ocasião, além da Comissão de Direitos Humanos, de que eu fazia parte, ao lado do Ranulfo, subcomissões que cuidavam dos direitos das minorias, a saber a Subcomissão dos Direitos das Crianças, a Subcomissão dos Direitos da Mulher e a Subcomissão dos Direitos dos Negros, até porque ali não havia essa besteira de “afro-descendente”, expressão erradíssima, pois faz supor que na África não nascem pessoas brancas. Se o escritor moçambicano Mia Couto se casar com uma norte-americana loira, seu filho, alvíssimo, será afro-descendente. Eis uma demonstração da estupidez daquela preconceituosa denominação. Tão cretina como o segregacionista sistema de cotas universitárias, que, pretendendo solucionar um problema, cria outro, muito mais grave, pois, em nome da integração, oficializa a segregação, que aqui jamais existiu. Vamos estudar História, moçada.

Voltando à OAB, numa das sessões da comissão de que eu fazia parte, indaguei se os homossexuais já constituíam maioria, pois eu tinha em mãos dois casos envolvendo queixa de discriminação apresentada por gays. Se há subcomissão relativa aos membros do sexo feminino e há subcomissão relativa aos negros, por que não havia uma Subcomissão dos Direitos dos Homossexuais? Um dos membros da comissão, que era uma advogada nascida em Pernambuco, negra como a asa da graúna, que não tinha papas nem bispos na língua, indignou-se. Inflamada, como era de seu perfil, levantou dramaticamente os dois braços e lançou seu protesto, carregando no sotaque: “Meu caro Suanexx, você agora exxtrapolou!”

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