Depois de ver o filme O Quarteto
Recebo
de uma amiga, tão jovem como eu, uma gentil mensagem dando-me dezenas de
conselhos sobre como responder as mensagens recebidas pela Internet que
resolvem nos dar conselhos. Especialmente as que dão conselhos a idosos, tal
como ela me faz, recomendando que não fale em doença, nem em remédio, nem em
médico, nem em hospital. Acho que ela está sugerindo que eu fique de bico
calado. Deve ser por causa do meu mau hálito, coisa comum em quem usa dentadura.
Eu poderia reproduzir algumas dessas recomendações, mas, com minha idade, mal
me lembro de onde fica o banheiro. E mesmo assim às vezes não chego a tempo. E
se chego a tempo não me lembro o que fui fazer lá.
Não
tenho o número de netos que ela tem, mas não creio que isso faça diferença. Quem
viu um viu todos. Como dizia aquele poeta, cujo nome me escapa, “Netos? Melhor
não tê-los.” Acho que foi por isso que a filha dele casou-se com aquela cantora
famosa, como é mesmo o nome dela? Avô e avó são, desde tempos imemoriais, meras
instituições, dessas que você guarda como se fosse um pacote que não se sabe o
que fazer com ele. Sabe aquele baú cheio de papéis imprestáveis? Algo assim. Se
algum amiguinho do teu neto chegar à casa do teu filho de surpresa e o teu
neto, meio constrangido, te apresentar a ele, não se assuste se ouvir a visita
dizer “Não foi ele que você foi enterrar outro dia?” “Sim, eu responderia, mas
resolvi dar uma voltinha aqui por baixo, para saber se a cretinice dos jovens
tem aumentado”, diria eu.
“-
Mas você hoje está pessimista” dirá alguém.
Por
que só hoje? Alguma vez eu tive motivo para ser otimista? Lembrar do Adhemar de
Barros, suspirar e dizer “Bons tempos aqueles!” Acha que é mole? Ouvi dizer que
o próximo governador de Brasília será o Batistini, aquele criminoso que o Lulla
perdoou. Estou pagando pra ver. Você, que também está beirando os 80, tem do
que se orgulhar?
“-
Claro que tenho. Pertenci à FEB e ajudei a tomar o Monte Castelo.”
Puxa!
E ergueram alguma estátua pra vocês, como a daqueles anônimos norte-americanos
fixando uma bandeira sei lá onde? Aliás, pergunte a 100 pessoas o que foi a FEB
e se alguém com menos de 60 anos souber eu jogo fora minha bengala. No mínimo
vão perguntar-lhe se esse Monte Castelo era marca de vinho. Nacional, é claro.
“-
Tô te achando deprimido hoje. Vai me dizer que o Prozac acabou?”
Que
eu me lembre, Prozac é o lugar onde a Globo faz as novelas que tu assiste. E,
pelo jeito, não acabou. Agora está importando ator português, ator argentino.
Logo logo vão colocar angolano nas novelas, por causa das tais cotas. Ou elas não
se aplicam a estrangeiros?
“-
Vamos mudar de assunto. Tem visto o pessoal de tua turma de faculdade?”
Quase
toda semana vejo um. Geralmente deitado, com algodão no nariz. Ele, não eu.
“-
Por falar em política, que achou da caravana da alegria da Dilma? Quinze
ministros! Sabe lá o que é isso? Coisa do Guiness.”
Aquilo
é que é mulher vocacionada para o cargo. Primeiro levou uma garrafa de pinga
pro negão lá deles, o que merece o prêmio rinoceronte de ouro de sensibilidade.
Se eu fosse o Obama, retribuiria com uma caixa de camisinhas de Vênus, em
vários sabores. Agora dá uma de católica, coisa que ela não é nem nunca foi.
“-
Positivamente, você está mal. Na sua idade já deveria saber que o mundo sempre
foi e sempre será assim.”
Aí
é que você se engana. Na tua mocidade tinha essa praga do telefone celular?
Tinha geleira derretendo e idiota batendo palma? Tinha pobre metido a besta? Tinha torneiro mecânico indo além de suas sandálias? Tinha presidente do Supremo que não fosse branquelo?
“-
Acho que eu vou indo, antes que eu comece a chorar. Aliás, os pais da
namoradinha do meu neto vão à casa do meu filho e ele me pediu para ir lá, dar
uma força. Sabe como são essas crianças. Aprontam e os pais que desatem o nó.”
No
meu tempo se dizia que “Criança que faz criança não é mais criança”. Hoje,
botam criança no mundo e os avós que cuidem delas. Já não chega ter de levar o
cachorrinho da casa pra fazer cocô no portão da vizinha e ainda tem mais essa
de levar criança pro berçário. Casar que é bom, nem pensar.
“-
O que mostra como você está velho.
No nosso tempo, casamento era coisa de homem e mulher. Hoje só bicha e sapatão
dão importância a isso.”
Por falar em velho, tua mãe ainda dá expediente no Café Photo?
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