“O poder não
presta contas.” William Shakespeare, Macbeth
“Power tends to
corrupt and absolute power corrupts absolutely.” Lord Acton (1834/1902)
Durante mais de 200
anos, entrava ano e saía ano e a França era governada por um Luís. Um deles
sintetizou o que pensavam todos eles:
L’État c’est moi. Se você pensa que essa frase foi inventada pelo Sarney ou
pelo Renan Calheiros, saiba que essa coisa é tão velha como o mundo.
A nobreza francesa
era, como a nossa atualmente, fonte de abusos de toda ordem. Para começar,
nobres não pagavam impostos. Hoje eles fingem que pagam, mas ou o dinheiro veio
de bolso alheio, geralmente uma grande empreiteira, ou saiu mesmo dos cofres
públicos, sob a forma de “cartão de crédito funcional” ou viagem “oficial” de avião
levando mulher, sogra, filhos e babás, ou juntando “notas frias” para
justificar a despesa. Descobre-se a maracutaia, o gatuno devolve (ou diz que
devolve) o dinheiro e tudo fica por isso mesmo. Peculato já era, mano. Os
ladrõezinhos pés de chinelo, que não têm sangue azul, não contam com esse
benefício. Contam?
Pois naquela época surgiu
na França um José Dirceu. Chamava-se Georges Jacques Danton e era um homem de
palavra fácil, especialmente quando se dirigia às massas. Seu nome ficou
indissoluvelmente ligado à de outro líder: Maximilien Marie Isidore de Robespierre. Enquanto Danton era agitador,
Robespierre era cerebral, com um raciocínio de rigor matemático. Um par
perfeito.
Em 1789 houve uma passeata que terminou com a invasão do
Castelo da Bastilha, onde ficavam os presos, todos pobres, evidentemente. Isso
incrementou o movimento popular que, organizado segundo modelo proposto por
Robespierre, acabou destituindo o rei Luis XVI, que foi submetido a um tribunal
popular, que, como era de esperar, condenou-o à morte, mesmo porque os
revoltosos haviam instituído a guilhotina, que ficava exposta em praça pública,
para acalmar os mais nervosinhos. Cerca de 3.000 pessoas foram decapitadas
desde 1.792, quando o aparelho do Dr. Guilhotin começou a trabalhar. Um deles,
como visto, foi o derradeiro Luís, em 1.793.
Na verdade, paradoxalmente, a revolta popular teve origem
na insurreição dos nobres, que se recusaram a aceitar a proposta do rei de
passarem a pagar impostos, para melhorar o caixa do governo. Em um segundo
momento, o rei convocou uma Assembleia Nacional para aprovar uma constituição.
Desde logo, porém, foi baixada a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, que inspiraria a ONU a promulgar a Declaração Universal dos Direitos Humanos
quase 200 anos após.
Voltemos à nossa dupla dinâmica.
Em meio ao caos, a França passou a ser administrada por
um Conselho Revolucionário, criando-se um Comitê de Salvação Nacional, que, em
nome do bem comum, passou a guiar-se pelo terror, pois o cerebral Robespierre
entendia que os fins justificam os meios. Assim, a moralidade não pode ser deixada
a cargo de cada um, mas deve ser imposta. Até as criancinhas devem saber de cor
a Declaração dos Direitos, como um
credo religioso. Danton não concordava com tais excessos, motivo pelo qual
passou a ser chamado de corrupto, pois vivia nababescamente, segundo os padrões
gerais, pois o povo passava fome. Condenado à morte, por iniciativa de seu
antigo aliado, entregou-se como um mártir, declarando-lhe: “Já correu muito sangue. Melhor acabar com isso, pois hoje sou eu,
amanhã será você”. Isso ocorreu em Abril de 1.794.
E não deu outra: em julho do mesmo ano a cabeça de
Robespierre era afastada do corpo.
A insatisfação popular acabou por produzir uma situação
irônica: a Revolução Francesa, que havia pretendido acabar com a realeza,
acabou levando a França a ela, com a assunção de Napoleão Bonaparte no cargo de
Cônsul Geral (1799) e declaradamente no de Imperador, cinco anos depois.
Muitos biógrafos apontam em Robespierre um fanatismo
quase religioso, julgando-se pessoa com poderes de um iluminado. Um de seus
projetos mais estapafúrdios, aprovado por seus temerosos pares, foi alterar o
tradicional nome dos dias da semana, substituídos por referências à natureza (época
de colheita, de geada, de calor, de colheita etc.):
Outono:
Vindemiário (vendémiaire): 22 de setembro a 21 de outubro
Brumário (brumaire): 22 de outubro a 20 de novembro
Frimário (frimaire): 21 de novembro a 20 de dezembro
Inverno:
Nivoso (nivôse): 21 de dezembro a 19 de janeiro
Pluvioso (pluviôse): 20 de janeiro a 18 de fevereiro
Ventoso (ventôse): 19 de fevereiro a 20 de março
Primavera:
Floreal (floréal): 20 de abril a 19 de maio
Pradial (prairial): 20 de maio a 18 de junho
Termidor (thermidor): 19 de julho a 17 de agosto
Frutidor (frutidor): 18 de agosto a 20 de setembro.
Nem Jânio Quadros chegou a tanto.
Para Robespirre, embora reconhecesse o valor do trinômio “liberdade,
igualdade, fraternidade”, deve-se sobrepor a igualdade à liberdade, a revolução
à liberdade, o povo à liberdade e as razões do Estado à vontade do povo. Nem
que seja oficializando o terror.
Como se vê, conhecer História nem sempre é perda de
tempo, especialmente quando se procuram pessoas carismáticas, como em nosso
momento presente, em lugar de procurarem-se projetos de governo. Sempre haverá
um Napoleão à espreita, ainda que o uniforme não seja o militar.
... mutatis mutantis, ... ou se o Metre falou, ... Roma locuta causa finita, ... e, ... o mundo iria se inspirar no Código Napoleônico de 1.804, ... com todo o eco dos tambores da linha de frente, ... so um Viva a Revolução, essa que se pensa e faz, com movimentos pacíficos, com ações coordenadas, sem violência e com muita inteligência, ...
ResponderExcluir... é claro, quis dizer Mestre e não metre, ... embora, desconheça mais essas habilidades do nosso Professor Adauto Suannes, ...
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