Até que idade as
pessoas acreditam na existência real do Papai Noel? O Felipe, por exemplo, hoje com quase 7 anos,
descobriu, tempo faz, que o Papai Noel é de plástico e mora no shopping. Pragmaticamente,
porém, ele prefere acreditar na existência dele e nos vários presentes que ele
traz, encomendados pelos pais, pelas tias, pelos avós e pelos padrinhos. Acho
que aprendeu isso lendo Pascal, às escondidas: “Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será
beneficiado com a ida ao Paraíso. Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, nada terá perdido.” A avó prometera-lhe que neste ano o bom velhinho
iria trazer uma tenda indígena para o bom garoto. E onde achar a tal tenda?
Resultado: ir prevenindo o Felipe de que Papai Noel talvez não encontre a tal
tenda. “E se ele não encontrar a tenda,
Felipe?” indaga a aflita avó. E ele, zen a mais não poder: “Se ele não encontrar a tenda eu não ganho
uma tenda no Natal.” E mais não disse nem lhe foi perguntado.
Aliás,
em que dia, mês e ano nasceu Jesus de Nazaré? Se considerarmos que estamos no
ano 5.774 do calendário judaico, Jesus teria nascido em 3.761 do calendário
judaico, num mês que certamente não se chamava Dezembro. E então, como
ficamos?
Sabe-se
que o calendário cristão é um dos inúmeros calendários possíveis. Indo-se a
qualquer enciclopédia, descobre-se que, além dele e do hebraico, há o
calendário muçulmano, o calendário maia e até mesmo um estranho calendário
criado pelos revolucionários franceses.
O calendário
hebraico introduziu a semana de sete dias, divisão que seria adotada em
calendários posteriores. É possível que sua origem esteja associada ao
caráter sagrado do número sete, como ocorre nas sociedades tradicionais, ou
que se relacione com a sucessão das fases da lua, já que a semana corresponde
aproximadamente à quarta parte do mês lunar.
A civilização
islâmica adotou o calendário lunar, em que o ano se divide em 12 meses de 29
ou 30 dias, de forma que o ano tem 354 dias. Como o mês sinódico não tem
exatamente 29,5 dias, mas 29,5306 dias, é necessário fazer algumas correções
para adaptar o ano ao ciclo lunar.
A origem do
calendário muçulmano se fixa na Hégira, que comemora a fuga de Maomé da
cidade de Meca para Medina, que coincide com o dia 16 de julho de 622 da era
cristã, no calendário gregoriano.
Um caso muito
singular é o do calendário republicano, instituído pela revolução francesa em
1.793, e que tinha como data inicial o dia 22 de novembro de 1.792, data em
que foi instaurada a república. Pretendia substituir o calendário gregoriano
e tornar-se universal. O ano passaria a ter 12 meses de trinta dias,
distribuídos em três décadas cada mês. Estas eram numeradas de um a três, e
os dias de um a dez, na respectiva década, recebendo nomes de primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi,
sextidi, septidi, octidi, nonidi, décadi. Deram-se, depois, às décadas,
nomes tirados de plantas, animais e objetos de agricultura. Dividiu-se o dia
em dez horas de cem minutos, e estes com cem segundos de duração. As
denominações dos meses inspiraram-se nos sucessivos aspectos das estações do
ano na França. Aos 360 dias acrescentavam-se cinco complementares, anualmente
e, um sexto a cada quatriênio. Teve curta duração (pouco mais de 13 anos) e a
1º de janeiro de 1.806, Napoleão Bonaparte acabou com a brincadeira, restabelecendo
o uso do calendário gregoriano.
O calendário
juliano remonta ao antigo Egito. Foi estabelecido em Roma por Júlio César no
ano 708 da fundação de Roma. Adotou-se um ano solar de 365 dias, dividido em
12 meses de 29, 30 ou 31 dias. A diferença do calendário egípcio está no fato
de se introduzirem os anos bissextos de 366 dias a cada quatro anos, de forma
que o ano médio era de 365,25 dias. O esquema dos meses foi reformulado posteriormente
para que o mês de agosto, assim nomeado em honra ao imperador Augusto,
tivesse o mesmo número de dias que o mês de julho, cujo nome é uma homenagem
a Julio César.
Em 1.582, o papa
Gregório XIII, aconselhado por astrônomos de sua confiança, por intermédio da
bula Inter Gravissimas, de 24 de fevereiro,
decretou a reforma do calendário, que passou, em sua homenagem, a chamar-se
gregoriano, e é o mais perfeito utilizado até hoje. Mesmo assim, apresenta
algumas deficiências. Uma delas é a diferença na duração dos meses (28, 29,
30 ou 31 dias) e o fato de que a semana, que é utilizada quase universalmente
como unidade de tempo de trabalho, não esteja integrada nos meses, de tal
forma que o número de dias trabalhados durante um mês pode variar de 24 a 27.
Apesar de
representar um avanço, o calendário gregoriano demorou para ser aceito,
principalmente em países não católicos, por motivos sobretudo
político-religiosos. No Brasil, então colônia de Portugal, que na época
estava sob o domínio da Espanha, o calendário gregoriano entrou em uso em 1.582.
Nas nações da Alemanha, foi adotado no decorrer dos séculos XVII (em poucos casos,
antes de 1.700) e XVIII (Prússia, 1.775); na Dinamarca (incluindo então a Noruega),
em 1.700; na Suécia (com inclusão da Finlândia), em 1.753. Nos cantões
protestantes da Suíça, no princípio do século XVIII. Na Inglaterra e suas
colônias, entre as quais os futuros Estados Unidos, em 1.752. Nos países
ortodoxos balcânicos, depois de 1.914 (Bulgária, 1.916, Romênia e Iugoslávia,
1.919; Grécia, 1.924). Na União Soviética, em 1.918. Na Turquia, em 1.927. No
Egito, já havia sido adotado para efeitos civis desde 1.873, mesma data em
que foi aceito no Japão. Na China foi aceito em 1.912, para vigorar simultaneamente
com o calendário tradicional chinês, até 1.928.
E como apareceu
o dia 25 de Dezembro?
Segundo o
Evangelho de Mateus, capítulo 2, versículos 1 a 3, “tendo nascido Jesus em Belém
da Judéia, no tempo de Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a
Jerusalém dizendo: ‘onde está aquele que é nascido rei dos judeus? pois vimos
sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.’ E o rei Herodes, ouvindo isso,
perturbou-se e, com ele, toda Jerusalém.” Acontece que Herodes reinou de 37 a
4 a.C., feita a devida conversão do calendário.
Assim, para que
não tenhamos de desmentir o evangelista, só nos cabe, como faz a própria
Igreja Católica, admitir este paradoxo: Jesus nasceu 5 ou 6 anos “antes de
Cristo”, ao contrário do que disseram os assessores do Papa Gregório, que
fizeram iniciar a era cristã na data de tal nascimento.
Quanto ao 25 de
Dezembro, referia-se ele a uma festa
pagã: “Natalis Solis Invicti” (nascimento
do sol invencível) e era uma homenagem ao deus persa Mitra, muito popular em
Roma. Como aconteceu com a festa judaica denominada “Pessach”, ou “Festa da Libertação”, que deu na
festa cristã da Páscoa, assim também a festa a Mitra converteu-se na Festa a
Jesus, tudo isso independentemente de calendário.
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