09 junho 2008

Voyeurismo inocente


Na rua, me chego à janela
e a bela, que ilumina a sala,
não fala. Ela lê somente.
Pressente que eu estou tão perto?
Decerto ela me ignora,
embora isso eu jamais saiba
nem caiba a mim descobri-lo.

Aquilo então me inspira versos
diversos, falando da vida,
da lida, mas também de amores
e dores, que deles decorrem.
Não morrem os apaixonados.
Coitados, mas que vida insana!

Juliana, que parece ausente,
somente está tramando versos
dispersos, compondo poesia,
que um dia ela trará a lume.
Resume tudo num hai kai
e sai agora de seu canto.

Espanto-me junto à janela.
E se ela agora me descobre?
Pobre de mim aqui sem eira,
e o Meira, seu ciumento pai,
já vai correr-me da cidade.
Quem há de vir então salvar-me?

Sou verme, mas eu sou poeta.
Por preta que seja esta sina,
menina, releve o pecado.
Cansado, agora eu vejo a lua.

Na rua, fujo da janela:
Juliana se debruça nela.

2 comentários:

  1. bah!
    visito o Circus e encontro esse poema! grata pelos versos! sem palavras..
    grande abraço

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  2. Pelas voltas que a vida dá
    ando muito atarantado
    ao mesmo tempo afogado
    em miles de entreveros
    dormindo só nos baixeiros
    sem tempo pra devaneio
    mas Adauto sem floreio
    vou acertar os ponteiros.

    O poema é um primor
    de afeto e fantasia
    a mim me arrepia
    ao ler a prosa e poesia
    por isso antes que fuja
    na noite escura e suja
    eis que a lua já se some
    não sou nenhum lobisomem
    mas apenas um pai coruja.

    Lindo. Pai coruja agradece ao Poeta lisongeado.

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