20 agosto 2008

Vale a pena ler de novo (VI)

Desafio

Ontõe Gago e Zé Preá,
gente boa num repente,
se encontraro em Cabrobró
pra alegria dos presente.


Fizero um forrobodó
de botá inveja na gente.
Desafia um daqui
arremete outro de lá
e ameaça arrebentá
a cara desse sagüi.

Eis que chega um forastero
para entrá na brincadera.
Quem é ele? Mano Mero,
vindo do sul brasileiro.


No Nordeste é no repente,
lá no sul é califórnia.
Veja o senhor a esbórnia
que ele tem na sua frente.

Zé Preá puxa o punhá
Mano Meira sua espada.
Bota ela ali deitada
no terreno do quintar.


E o gaúcho vem bailando
saltita sobre a danada.
Zé Preá nu intende nada,
Ontõe Gago só mirando.

Toda lida ali termina
com gritinho e alegria,
com abraço e cantoria.
Coisa munta feminina.

Devo agora terminá
este modesto repente.
Me desculpe, Zé Preá,
se lhe fui tão renitente.


Mano Meira vem pra cá
comer churrasco co’a gente.
Ontõe Gago vai dançá
xaxado, todo contente.

A. Cerviño - SP

(Migalhas 1º. 09.06)

3 comentários:

  1. Este tal Mano Meira, dançador de chula e assador de primeira, seria por acaso aparentado com nossa querida poeta Juju?

    Legal teu desafio!

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  2. O TAL DE DESAFIO.

    Amigos. O tal desafio
    Já vai pra um rol de tempo,
    É chama que o vento
    Apaga e reacende o pavio,
    Cousa igual nunca se viu
    Fora do mundo virtual,
    Mas nesse jogo desigual
    Mestre Adauto é o luzeiro,
    Bem no centro do terreiro
    É quem segura o castiçal.

    Mano Meira.

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  3. E por falar em dasafio, que tal esse habeas-pinho, bem afinado:


    Nos anos 70, em Campina Grande, na Paraíba, um rapaz que fazia serenata às proximidades de uma residência foi preso, por descumprir Portaria do Delegado local, que proibia a permanência nas ruas após as 22h. Embora o rapaz tenha sido liberado no dia seguinte, o violão ficou detido. Tomando conhecimento do acontecido, o então jovem advogado, poeta e atual senador Ronaldo Cunha Lima enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical:


    Exmº Senhor Juiz de Direito desta Comarca


    O instrumento do "crime"que se arrola
    Nesse processo de contravenção
    Não é faca, revolver ou pistola,
    Simplesmente, Doutor, é um violão.

    Um violão, doutor, que em verdade
    Não feriu nem matou um cidadão
    Feriu, sim, mas a sensibilidade
    De quem o ouviu vibrar na solidão.

    O violão é sempre uma ternura,
    Instrumento de amor e de saudade
    O crime a ele nunca se mistura
    Entre ambos inexiste afinidade.

    O violão é próprio dos cantores
    Dos menestréis de alma enternecida
    Que cantam mágoas que povoam a vida
    E sufocam as suas próprias dores.

    O violão é música e é canção
    É sentimento, é vida, é alegria
    É pureza e é néctar que extasia
    É adorno espiritual do coração.

    Seu viver, como o nosso, é transitório.
    Mas seu destino, não, se perpetua.
    Ele nasceu para cantar na rua
    E não para ser arquivo de Cartório.

    Ele, Doutor, que suave lenitivo
    Para a alma da noite em solidão,
    Não se adapta, jamais, em um arquivo
    Sem gemer sua prima e seu bordão

    Mande entregá-lo, pelo amor da noite
    Que se sente vazia em suas horas,
    Para que volte a sentir o terno acoite
    De suas cordas finas e sonoras.

    Liberte o violão, Doutor Juiz,
    Em nome da Justiça e do Direito.
    É crime, porventura, o infeliz
    Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

    Será crime, afinal, será pecado,
    Será delito de tão vis horrores,
    Perambular na rua um desgraçado
    Derramando nas praças suas dores?

    Mande, pois, libertá-lo da agonia
    (a consciência assim nos insinua)
    Não sufoque o cantar que vem da rua,
    Que vem da noite para saudar o dia.

    É o apelo que aqui lhe dirigimos,
    Na certeza do seu acolhimento
    Juntada desta aos autos nós pedimos
    E pedimos, enfim, deferimento.


    O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.

    Recebo a petição escrita em verso
    E, despachando-a sem autuação,
    Verbero o ato vil, rude e perverso,
    Que prende, no Cartório, um violão.

    Emudecer a prima e o bordão,
    Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
    É desumana e vil destruição
    De tudo que há de belo no universo.

    Que seja Sol, ainda que a desoras,
    E volte á rua, em vida transviada,
    Num esbanjar de lágrimas sonoras.

    Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
    Noite de luz, plena madrugada,
    Venha tocar à porta do Juiz.

    Ao final, diga-se entre parêntesis (que o despacho concedente da ordem do habeas-pinho, tem a cara do nosso Mestre Adauto). Cordiais saudações! Cleanto Farina Weidlich - Carazinho (do mesmo torrão natal dos famosos Mano Meira e Leonel Brizola), RS.

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