26 janeiro 2009

China


Que é feito de ti, menina?
Como anda teu sorriso?
Eu quase perdi o juízo
por causa da minha sina.

Não creia que isto é besteira:
és promotora de dores!
E como vão tuas flores?
Tua vida é a costumeira?

Quando estiver na prisão,
Co’ esta saudade danada,
eu ali não terei nada
mais que a minha solidão.

A poesia em mim guardada
declamarei aos detentos,
de mil afagos sedentos,
esperando uma advogada.

Espera inútil, garanto.
Quem nos virá visitar?
Quem teremos pra secar
do rosto esse nosso pranto?

Pedirei ao Francimar
que um habeas corpus proponha
- Digo isso sem vergonha –
pra um juiz me libertar.

Mas pra que a liberdade,
se uma juíza tão terna
me impõe prisão eterna
na forma desta saudade?

Isso não é desengano,
pois nós servi legis sumus
ut liberi possimus,

como dizia Ulpiano.

Escravo sou desta sina,
mas liberdade não vejo,
se a coisa que mais desejo
és tu, minha ingrata china.

Uma coisa me consola:
não me tens em teu fandango?
Pois não bailarás o meu tango
ao som do Astor Piazzolla.

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