19 fevereiro 2011

China

Que é feito de ti, menina?

Como anda teu sorriso?

Eu quase perdi o juízo

por causa da minha sina.



Não creia que isto é besteira:

és promotora de dores!

E como vão tuas flores?

Tua vida é a costumeira?



Quando estiver na prisão,

Co’ esta saudade danada,

eu ali não terei nada

mais que a minha solidão.



A poesia em mim guardada

declamarei aos detentos,

de mil afagos sedentos,

esperando uma advogada.



Espera inútil, garanto.

Quem nos virá visitar?

Quem teremos pra secar

do rosto esse nosso pranto?



Pedirei ao Francimar

que um habeas corpus proponha

- Digo isso sem vergonha –

pra um juiz me libertar.



Mas pra que a liberdade,

se uma juíza tão terna

me impõe prisão eterna

na forma desta saudade?



Isso não é desengano,

pois nós servi legis sumus

ut liberi possimus,

como dizia Ulpiano.



Escravo sou desta sina,

mas liberdade não vejo,

se a coisa que mais desejo

és tu, minha ingrata china.



Uma coisa me consola:

não me tens em teu fandango?

Pois não bailarás o meu tango

ao som do Astor Piazzolla.



http://br.youtube.com/watch?v=k4xacge6qHE&feature=related

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Esta é uma brincadeira, que teve apenas o propósito de homenagear o compositor argentino, apresentando aquela que considero sua mais bela (e, certamente, mais triste) composição. Há inúmeras gravações dela, como nestes belíssimos solos:


de oboé: http://www.youtube.com/watch?v=0BLVLFzVF6M

 flauta transversal: http://www.youtube.com/watch?v=QB21qQj-_fY

de violino, ao incrível ritmo de bossa-nova: http://www.youtube.com/watch?v=to0DbEFTLAM&feature=related

de de flauta pan (repare no solista): http://www.youtube.com/watch?v=e6h7887jwEw&feature=related

Um comentário:

  1. Conheço alguma coisa da vida de Piazolla, mas o que me parece, jamais superou, foi a perda do pai.
    Isso fica bem destacado, especialmente nessa composição imensamente triste, porém belíssima.

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