30 agosto 2013

A moral de cada um


“Aos amigos tudo; aos inimigos nada; aos indiferentes a lei.” (Getúlio Dorneles Vargas, Promotor de Justiça e Presidente da República do Brasil)

 O filme O leitor que rendeu, merecidamente, o prêmio de melhor atriz para Kate Winslet, é baseado no livro de mesmo nome, no qual se alude a um fato que aqueles que se debruçaram sobre o Tribunal de Nuremberg conhecem de sobra: até onde você é livre para contestar uma ordem que considera imoral? Eu mesmo refiro-me ao tema em livro lançado pelo Instituto Memória, Justiça & caos, onde me demoro em considerações sobre a legalidade/ilegalidade do julgamento daquele tribunal.
Sabemos que o chamado Eixo, composto de Alemanha, Itália e Japão, avançava sobre países vizinhos, numa típica guerra de conquista, ao mesmo tempo em que os alemães promoviam um pavoroso programa de “aprimoramento da raça ariana”, que compreendia a eliminação de homossexuais, ciganos, aleijados, negros e judeus. A certa altura, o Japão resolveu bombardear território norte-americano. Uma série de investidas contra Pearl Harbor causou danos de monta aos norte-americanos, que tiveram o motivo que lhes faltava para entrar na guerra e botar os pés na Europa, de onde nunca mais sairiam. Até hoje historiadores perguntam o que pretenderiam os japoneses provocando quem estava quieto do outro lado do mundo. E também se perguntam como o governo norte-americano não detectou esse possível ataque. Muitos e muitos anos depois historiadores indagariam como o serviço de contra-espionagem norte-americano também não detectou o ataque terrorista às torres gêmeas de Nova Iorque, mas isso é outra história.
O fato é que, a pretexto de convencer os adversários de que a guerra estava perdida para eles, os norte-americanos despejaram bombas atômicas sobre Nagasaki e Hiroshima. Considerando que o líder adversário era alemão, porque lançar aquelas bombas sobre cidades japonesas? Havia, de fato, motivo para isso ou aquilo foi um simples ato de vingança pelas mortes ocorridas em Pearl Harbor?   
Encerrada a guerra, criou-se um Tribunal para julgar eventuais crimes de guerra. O despejo aparentemente desnecessário das bombas atômicas constituíram, em tese, crimes de guerra, mas apenas os dirigentes nazistas foram submetidos a julgamento pelos crimes referidos. O que impressionou os observadores neutros, que assistiram aos julgamentos, foi o fato de muitos desses réus serem pessoas normais, com família bem constituída, que se limitaram a cumprir as leis alemãs.
Veja-se o contraste: é difícil imaginar que algum alemão continuasse vivo se, por questão de consciência, se recusasse a cumprir as ordens que lhe eram dadas por uma autoridade nazista. O mesmo não se pode dizer dos pilotos que despejaram as bombas atômicas. Aqueles foram condenados; estes nem foram processados. Anos depois, os norte-americanos despejaram bombas de napalm sobre número incontável de vietnamitas. Quem viu a famosíssima foto da menina Phan Kim Phuc jamais se esqueceu disso. O massacre de My Lai produziu quantos condenados? A quais penas? Muitos norte-americanos, como Muhammad Ali, recusaram-se a lutar naquela guerra. E estão vivos até hoje. Preciso dizer mais?
O Exército de Israel também tem utilizado bombas proibidas contra seus vizinhos. E daí?
Pois no livro e no filme referidos acima discute-se exatamente isso: aquela jovem alemã poderia recusar-se a fazer o que lhe havia sido determinado por seus superiores? E aquele jovem estudante de Direito tinha o direito de silenciar o que sabia, para não se indispor com os demais membros de sua comunidade?
Para encerrar este mero memento, faço-lhe algumas perguntas: se você fosse aquela moça ou aquele jovem, você teria agido diferentemente? Se você hoje morasse em Israel, aplaudiria as entidades que pretendem submeter a um Tribunal Internacional os responsáveis pelo despejo de bombas incendiárias sobre a população do Líbano e por aquilo que passará para a História como o “Massacre de Gaza”?
Algo semelhante está para acontecer na Síria, pois, antes mesmo de apurar-se quem despejou armas químicas sobre a população civil já se conclui que “só pode ser o Bashar al-Assad”.
No Brasil de hoje, o que temos? A Câmara dos Deputados passa por cima da Constituição ao manter o mandato de um deputado cujos direitos políticos estão suspensos automaticamente por sua condenação criminal e consequente prisão. Nosso Judiciário, cujos membros deveriam, por espelhar, em tese, o padrão ético médio de conduta de cada um de nós, dar-nos exemplos de bom proceder, está muito longe disso. Ministros da Suprema Corte batem boca como se estivessem na apuração do resultado de desfile de escolas de samba. Só falta trocarem sopapos.
Seria enfadonho rememorar fatos semelhantes para ilustrar a crise de moralidade que assola o mundo e, em particular, o nosso país. Aonde dará isso tudo?

2 comentários:

  1. SO TEMOS A NOS INDIGNAR E MUDAR ESSES CONCEITOS DE POLITICA EM NOSSO PAÍS. O QUE FOI FEITO ENTRE ALMAES E JUDEUS , TEM DE SERVIR AO MENOS PARA QUE SE QUESTIONE A AUTORIDADE DE UM POVO.AS ELEIÇOES ESTÃO POR ACONTECER . QUANTOS DE NÓS SE LEMBRARÃO DE FATOS EXPURIOS COMO O DA NÃO PUNIÇÃO Á UM LADRAO? VEREMOS!! TEMOS DE FAZER ANTES , DEPOIS VIRA SÓ MEMORIAS , COMO AS TRISTES DO HOLOCAUSTO

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  2. ... nessas horas, ... só o E. Galeano nos salva ou nos manda pra guerra, ... é tudo uma questão de ponto de observação e interesse, ... se somos governo, mediante o estelionato eleitoral praticado, ... a saúde é a melhor do mundo, a segurança idem, e não falta educação, ... se não somos, se fizemos parte do rol das vítimas que deveria encimar um Inquérito Policial, pelo estelionato praticado, ... vamos à luta!, ... e pasmem, ... com esse Judiciário mesmo, mas na onda das redes sociais, na onda dos movimentos pacíficos de protesto, ... em diante, ... sempre em frente, ... vivendo na real o sonho das utopias, ...

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