05 dezembro 2013

Na portaria de um hotel cearense



Com agradecimento ao amigo Isaac Chenker

- Por favor, eu gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso de Turismo de Fortaleza.
- Pois não.
- Por que não?
- Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
- Sou de Maputo, Moçambique.
- Da África, né?
- Sim, sim, da África.
- Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos.
- É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade.
- Aqui no Brasil, quando dizemos “pois não” queremos dizer “sim”; quando dizemos “pois sim” queremos dizer “perca as esperanças”.
- E dizem que falam português.
- Pronto, teremos uma palestra agora na sala meia oito.
- Desculpe, qual sala?
- Meia oito.
- Podes escrever?
- Não sabe o que é “meia oito”? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
- Ah, entendi, “meia” é seis.
- Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: a organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc. Gostaria de encomendar?
- Quanto tenho que pagar?
- Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam meia.
- Muito bom. Aqui estão: seis reais.
- Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
- Pago meia? Só cinco? Meia é cinco ou é seis?
- Meia agora é cinco.
- Entendi. Meia agora é cinco.
- Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
- Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte.
- Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
- Pensei que fosse às 9:05, pois meia não é cinco?
       - Meia agora é trinta.
- Você pode escrever aqui a hora em que começa a palestra?
- Nove e meia, assim, veja: 9:30
- Ah, entendi. Meia é trinta.
- Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor. Tenho aqui um folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?
- Sim, já estou na casa de um amigo.
- Em que bairro?
- No Trinta Bocas.
- Trinta Bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas?
- Isso mesmo, no bairro “Meia Boca”.
- Ele não é meia boca; é um bairro nobre.
- Então deve ser Cinco Bocas.
- Não. O nome é Seis Bocas, entende. Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas. Por isso deram esse nome de Seis Bocas. Entendeu?
- Acabou?
- Ainda não. Devo informar-lhe que é proibido entrar no evento de sandálias, como as suas. Coloque meias e calce um par de sapatos. 

- Quantas meias? Cinco, seis ou trinta?


Um comentário: