23 dezembro 2013

Natal


Até que idade as pessoas acreditam na existência real do Papai Noel?  O Felipe, por exemplo, hoje com quase 7 anos, descobriu, tempo faz, que o Papai Noel é de plástico e mora no shopping. Pragmaticamente, porém, ele prefere acreditar na existência dele e nos vários presentes que ele traz, encomendados pelos pais, pelas tias, pelos avós e pelos padrinhos. Acho que aprendeu isso lendo Pascal, às escondidas: Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao Paraíso. Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, nada terá perdido. A avó prometera-lhe que neste ano o bom velhinho iria trazer uma tenda indígena para o bom garoto. E onde achar a tal tenda? Resultado: ir prevenindo o Felipe de que Papai Noel talvez não encontre a tal tenda. “E se ele não encontrar a tenda, Felipe?” indaga a aflita avó. E ele, zen a mais não poder: “Se ele não encontrar a tenda eu não ganho uma tenda no Natal.” E mais não disse nem lhe foi perguntado.
Aliás, em que dia, mês e ano nasceu Jesus de Nazaré? Se considerarmos que estamos no ano 5.774 do calendário judaico, Jesus teria nascido em 3.761 do calendário judaico, num mês que certamente não se chamava Dezembro. E então, como ficamos?
Sabe-se que o calendário cristão é um dos inúmeros calendários possíveis. Indo-se a qualquer enciclopédia, descobre-se que, além dele e do hebraico, há o calendário muçulmano, o calendário maia e até mesmo um estranho calendário criado pelos revolucionários franceses.
O calendário hebraico introduziu a semana de sete dias, divisão que seria adotada em calendários posteriores. É possível que sua origem esteja associada ao caráter sagrado do número sete, como ocorre nas sociedades tradicionais, ou que se relacione com a sucessão das fases da lua, já que a semana corresponde aproximadamente à quarta parte do mês lunar.
A civilização islâmica adotou o calendário lunar, em que o ano se divide em 12 meses de 29 ou 30 dias, de forma que o ano tem 354 dias. Como o mês sinódico não tem exatamente 29,5 dias, mas 29,5306 dias, é necessário fazer algumas correções para adaptar o ano ao ciclo lunar.
A origem do calendário muçulmano se fixa na Hégira, que comemora a fuga de Maomé da cidade de Meca para Medina, que coincide com o dia 16 de julho de 622 da era cristã, no calendário gregoriano.
Um caso muito singular é o do calendário republicano, instituído pela revolução francesa em 1.793, e que tinha como data inicial o dia 22 de novembro de 1.792, data em que foi instaurada a república. Pretendia substituir o calendário gregoriano e tornar-se universal. O ano passaria a ter 12 meses de trinta dias, distribuídos em três décadas cada mês. Estas eram numeradas de um a três, e os dias de um a dez, na respectiva década, recebendo nomes de primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi, décadi. Deram-se, depois, às décadas, nomes tirados de plantas, animais e objetos de agricultura. Dividiu-se o dia em dez horas de cem minutos, e estes com cem segundos de duração. As denominações dos meses inspiraram-se nos sucessivos aspectos das estações do ano na França. Aos 360 dias acrescentavam-se cinco complementares, anualmente e, um sexto a cada quatriênio. Teve curta duração (pouco mais de 13 anos) e a 1º de janeiro de 1.806, Napoleão Bonaparte acabou com a brincadeira, restabelecendo o uso do calendário gregoriano.
O calendário juliano remonta ao antigo Egito. Foi estabelecido em Roma por Júlio César no ano 708 da fundação de Roma. Adotou-se um ano solar de 365 dias, dividido em 12 meses de 29, 30 ou 31 dias. A diferença do calendário egípcio está no fato de se introduzirem os anos bissextos de 366 dias a cada quatro anos, de forma que o ano médio era de 365,25 dias. O esquema dos meses foi reformulado posteriormente para que o mês de agosto, assim nomeado em honra ao imperador Augusto, tivesse o mesmo número de dias que o mês de julho, cujo nome é uma homenagem a Julio César.
Em 1.582, o papa Gregório XIII, aconselhado por astrônomos de sua confiança, por intermédio da bula Inter Gravissimas, de 24 de fevereiro, decretou a reforma do calendário, que passou, em sua homenagem, a chamar-se gregoriano, e é o mais perfeito utilizado até hoje. Mesmo assim, apresenta algumas deficiências. Uma delas é a diferença na duração dos meses (28, 29, 30 ou 31 dias) e o fato de que a semana, que é utilizada quase universalmente como unidade de tempo de trabalho, não esteja integrada nos meses, de tal forma que o número de dias trabalhados durante um mês pode variar de 24 a 27.
Apesar de representar um avanço, o calendário gregoriano demorou para ser aceito, principalmente em países não católicos, por motivos sobretudo político-religiosos. No Brasil, então colônia de Portugal, que na época estava sob o domínio da Espanha, o calendário gregoriano entrou em uso em 1.582. Nas nações da Alemanha, foi adotado no decorrer dos séculos XVII (em poucos casos, antes de 1.700) e XVIII (Prússia, 1.775); na Dinamarca (incluindo então a Noruega), em 1.700; na Suécia (com inclusão da Finlândia), em 1.753. Nos cantões protestantes da Suíça, no princípio do século XVIII. Na Inglaterra e suas colônias, entre as quais os futuros Estados Unidos, em 1.752. Nos países ortodoxos balcânicos, depois de 1.914 (Bulgária, 1.916, Romênia e Iugoslávia, 1.919; Grécia, 1.924). Na União Soviética, em 1.918. Na Turquia, em 1.927. No Egito, já havia sido adotado para efeitos civis desde 1.873, mesma data em que foi aceito no Japão. Na China foi aceito em 1.912, para vigorar simultaneamente com o calendário tradicional chinês, até 1.928.
E como apareceu o dia 25 de Dezembro?
Segundo o Evangelho de Mateus, capítulo 2, versículos 1 a 3, “tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo de Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém dizendo: ‘onde está aquele que é nascido rei dos judeus? pois vimos sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.’ E o rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se e, com ele, toda Jerusalém.” Acontece que Herodes reinou de 37 a 4 a.C., feita a devida conversão do calendário.
Assim, para que não tenhamos de desmentir o evangelista, só nos cabe, como faz a própria Igreja Católica, admitir este paradoxo: Jesus nasceu 5 ou 6 anos “antes de Cristo”, ao contrário do que disseram os assessores do Papa Gregório, que fizeram iniciar a era cristã na data de tal nascimento.
Quanto ao 25 de Dezembro, referia-se ele a uma festa pagã: “Natalis Solis Invicti” (nascimento do sol invencível) e era uma homenagem ao deus persa Mitra, muito popular em Roma. Como aconteceu com a festa judaica denominada “Pessach”, ou “Festa da Libertação”, que deu na festa cristã da Páscoa, assim também a festa a Mitra converteu-se na Festa a Jesus, tudo isso  independentemente de calendário.

Um comentário:

  1. Além da curiosidade implantada na história das ''datas'' relevantes para a sociedade contemporânea, o escrito nos remete à magia de algo transcendente, que é o tempo. O tempo cicatrizado por nós.
    Um abraço Adauto Suannes, que seu Natal seja repleto de mágicas, mais que natalinas.

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