24 maio 2016

Um estagiário muito eficiente !


Em dezembro de 2013 meu pai, antes de ser internado pela última vez, mandou um email com uma ação que ele tinha montado, contra a SulAmérica, em razão dela não haver autorizado, por três vezes, a liberação de pagamento de uma “bomba de perfusão” que ele utilizava na quimioterapia domiciliar:
“Pat. Dê uma lida e faça suas adaptações. Ad”.

Quem conheceu meu pai sabe o quanto era rápido, inteligente e excelente escritor. Minhas adaptações foram meramente estéticas e juntada de documentos.

Lembro como se fosse hoje ele ali, sentado no quarto do hospital, papéis na mão, caneta na outra, fazendo mais alguns ajustes no texto que ele mesmo tinha feito:
“Perfeito. Ótimo trabalho, Dra. Pat”.

Distribuí a ação no dia seguinte e logo foi concedida a tutela.

Mal sabíamos nós que a tal “bomba de perfusão” não seria mais necessária, mas ainda continuamos com a ação por causa do ressarcimento e pedido de danos morais. Ele faleceu três meses depois.

Ontem recebi um telefonema, do nada, de um lugar chamado “Concilie”, informando que a SulAmérica estava disposta a participar de uma Conciliação Online e se havia interesse do meu cliente. Pensei até em dizer que precisaria ir a uma sessão espírita para conseguir perguntar a ele, mas achei que ela não entenderia... Apenas concordei.

Até 10h30 da manhã de hoje eu não tinha a menor ideia de como isso funcionaria, mas a palavra Conciliação é sempre música para meus ouvidos.

E assim foi: em pouco mais de 1 hora, num “chat”, eu, uma Conciliadora e a Advogada da SulAmérica chegamos a um denominador comum. Esse acordo agora será juntado nos autos do processo e caso a empresa não cumpra, pode ser executado.

E nessa 1 hora, uma vida inteira passou pela minha cabeça: meu ingresso na Faculdade de Direito por sugestão do meu pai; meu exame da OAB/SP, com ele me parabenizando efusivo pela minha desenvoltura, ouvida sentadinho numa sala ao lado; as vezes em que eu datilografava as petições que ele fazia à mão, simplesmente para que eu fosse pegando o jeito (já que era um exímio datilógrafo); do nosso almoço no Pátio do Colégio e visita ao Centro Cultural da Caixa, numa tarde em que fomos à cidade para retirar um processo; da sabedoria que ele tinha em abrir a página certa de um livro ao procurar determinado Acórdão ou citação; de uma das minhas primeiras audiências, já como Advogada, mas que ele insistiu que eu fizesse, apresentando-se ao Juiz como meu estagiário...

E senti por ele não estar sentado ali, ao meu lado, acompanhando algo pelo qual sempre brigou: uma advocacia informatizada e mais ágil.

Por outro lado, a presença espiritual foi muito clara, pois não tenho a menor dúvida de que foi ele quem intercedeu para que essa situação acontecesse.

Perfeito. Ótimo trabalho, Dr. Adalon !

Sabia que esse meu estagiário tinha um futuro promissor.

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